Maioria dos proprietários em Portugal não paga crédito habitação Quem tem encargos com a compra de casa paga 360 euros, um valor médio superior à renda mensal (334 euros), apontam os Censos 2021. 10 fev 2023 min de leitura As casas em Portugal continuam a ficar mais caras, muito embora o ritmo de subida dos preços já esteja a abrandar em grandes cidades. A verdade é que os preços das casas têm evoluído a uma maior velocidade do que os rendimentos das famílias. E, por isso, muitas recorrem a financiamento bancário para comprar casa. Mas os dados do Censos 2021 revelam que, afinal, cerca de 62% das habitações ocupadas pelos próprios proprietários não têm encargos com a aquisição de habitação. Esta quarta-feira, dia 8 de fevereiro, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que, em 2021, foram contabilizados 5.981.482 alojamentos no país, mais 1,7% do que em 2011, respetivamente. Destes, a grande maioria diz respeito a habitações (um total de 4.142.581 alojamentos familiares). Estas casas estão ocupadas de diferentes formas: 2.900.093 casas estavam ocupadas pelo proprietário; 1.242.488 alojamentos encontravam-se em arrendamento ou noutras situações, sendo, fundamentalmente, propriedade de particulares ou de empresas privadas e de ascendentes ou descendentes (26,6%). Embora haja cada vez mais famílias a recorrer ao empréstimo bancário para comprar casa, os dados dos Censos 2021 revelam que “em 61,6% dos alojamentos ocupados pelos proprietários não existiam encargos decorrentes da aquisição de habitação”. Isto mesmo num momento em que a inflação estava baixa e as taxas de juro nos créditos habitação ainda estavam em mínimos históricos, criando um contexto favorável à compra de casa com recurso ao financiamento bancário. Compra de casa: encargos médios estavam nos 360 euros em 2021 O que os dados dos Censos 2021 também dizem é que “dos 2.900.093 alojamentos de residência habitual ocupados pelos proprietários, 38,4% (1.112.875) tinham encargos mensais com a sua aquisição”. Olhando para o mapa de Portugal, salta à vista que as regiões com maior proporção de proprietários com encargos financeiros associados à aquisição de habitação nesse ano eram as regiões da Área Metropolitana de Lisboa (47,8%) e da Área Metropolitana do Porto (44,1%). Por oposição, a região com menor proporção de proprietários com encargos era o Alto Tâmega, com 16,9%. Considerando as famílias que estão a pagar créditos habitação, “verifica-se que em 39,4% dos alojamentos, os proprietários residiam no alojamento há um período entre 10 a 19 anos. Em contrapartida, em 29,0% dos alojamentos ocupados por proprietários sem encargos associados à aquisição de habitação, o número de anos de residência era superior a 40 anos”, destaca ainda o INE. Censos 2021 | INE Na altura, “o valor dos encargos médios mensais com a aquisição de habitação era de 360,5 euros”, revela ainda o boletim do INE. Mas, hoje, este valor deverá ser bem superior já que as taxas de juro do crédito habitação estão a subir consoante a Euribor reage às decisões de política monetária do Banco Central Europeu. Recorde-se que o regulador europeu liderado por Christine Lagarde subiu as taxas de juro diretoras em 300 pontos base entre julho e fevereiro e prometeu continuar a subi-las nas próximas reuniões. Considerando os escalões de encargos mensais com a compra de casa em 2021, verifica-se que Custos menores a 100 euros: representavam 3,2% das casas; Custo entre 100 e 199,99 euros: pesavam 14,7% dos alojamentos; Custos entre 200 e 400 euros: representavam 52,8% das casas; Custos entre 400 e 649,99 euros: dizem respeito a 20,7%; Encargos superiores a 650 euros representavam 8,6% do total de alojamentos, existindo 2,9% de habitações om encargos superiores a 1.000 euros. É na Área Metropolitana de Lisboa onde se registou o valor médio mensal mais elevado dos encargos financeiros com aquisição de habitação: 397,0 euros. Com exceção da Região Autónoma da Madeira (394,3 euros) e do Algarve (374,3 euros), todas as restantes regiões apresentavam um valor médio dos encargos mensais devido à compra de casa abaixo do valor médio do país (360,5 euros). Censos 2021 | INE Arrendar casa em Portugal: maioria das famílias paga rendas entre 200 e 500 euros Cerca de 30% das casas destinadas à habitação em Portugal estavam arrendadas (ou em outras situações) em 2021, de acordo com os mesmos dados. E na grande maioria das casas (cerca de 60,6%) estavam arrendadas entre 1 e 9 anos. Já em 12,7% dos alojamentos, as famílias residiam há 40 anos ou mais em Banco Central Europeu (as chamadas rendas antigas). E quanto é que as famílias residentes em Portugal pagavam de renda da casa? Segundo os dados dos Censos 2021, estes são os escalões do valor mensal da renda da casa: Rendas inferiores a 20 euros: representavam 4,0% do total de casas arrendadas; Renda da casa entre 20 e 49,99 euros (5,1% do total); Rendas entre 50 e 200 euros (21,0%); Rendas entre 200 e 500 euros: correspondiam a cerca de 61,4% das habitações (a grande maioria); Rendas superiores a 650 euros: correspondiam, no seu conjunto, a 8,5% do total de alojamentos arrendados. De notar que as casas com rendas superiores a 1.000 euros pesavam 2,2%. Importa recordar que as rendas das casas continuaram a subir ao longo de 2022, dada a alta procura para a escassa oferta As casas para arrendar ficaram 20,2% mais caras entre dezembro de 2022 e o mesmo mês de 2021, passando a ter um custo mediano de 12,9 euros/m2 no final do ano passado. E em janeiro de 2023 as rendas das casas voltaram a subir 1,6% face ao mês anterior, tendo-se fixado em 13,1 euros/m2. Há regiões no país onde se evidencia uma maior proporção de habitações arrendadas com valores mensais de renda até 99 euros, como é o caso da Região Autónoma da Madeira (31,9%), do Alto Alentejo (24,3%), da Região Autónoma dos Açores (23,2%) e da Área Metropolitana do Porto (22,0%), revela ainda o INE. No extremo oposto estão as casas arrendadas por 1.000 euros ou mais. Estas são as regiões portuguesas onde há uma maior proporção de alojamentos arrendados com estes valores: a Área Metropolitana de Lisboa (4,6%); o Algarve (1,6%); o Alentejo Litoral (1,3%); a Área Metropolitana do Porto (1,2%). Quanto aos apoios ao arrendamento dados pelo Governo e pelos municípios do país (como o Programa de Arrendamento Acessível e a Porta 65), os Censos 2021 revelam que se contabilizaram um total de 63.217 alojamentos arrendados com ajudas. Este número de casas com rendas apoiadas correspondente a 6,9% do total de alojamentos arrendados, maioritariamente associados a renda social ou apoiada (4,3% dos alojamentos arrendados; 40.017 alojamentos). Freepik Como é são as casas das famílias em Portugal? Os dados do Censos 2021 também mostraram ainda que na última década o parque habitacional português aumentou 3,1%, tendo sido construídos 110.784 novos edifícios. E revela como é que vivem hoje as famílias nas suas casas, indicando como aquecem a casa no inverno ou a refrescam no verão e dando pistas sobre a sua acessibilidade a pessoas com dificuldades motoras, assim como sobre a sua dimensão e estado de conservação: Climatização da casa: nos dias mais frios, as famílias que residem em Portugal usavam com mais frequência os aparelhos móveis (aquecedores elétricos ou a gás, por exemplo) para aquecer a casa. Já para na grande maioria (83,4%) dos alojamentos familiares não dispunha de ar condicionado. Esta percentagem reduz-se para 63,5% nos alojamentos construídos na última década. Casas acessíveis para pessoas com dificuldades motoras: cerca de 34,0% dos alojamentos eram acessíveis a cadeira de rodas em 2021. E esta percentagem subiu 68,2% nos alojamentos construídos na última década. Dimensão das habitações: cerca de 51,9% dos alojamentos familiares clássicos tinham uma área útil entre 60 m2 e 119 m2 , registando-se uma área média útil de 112,4 m2. Dimensão das casas face ao número de habitantes: o que os dados do INE também revelam é que a maioria das habitações (cerca de 63,6%) encontrava-se sublotadas. Já 23,7% tinham lotação normal, ou seja, consideravam-se adequados ao número de pessoas que residiam nestas casas; Estado de conservação: a maioria dos edifícios (64,2%) em Portugal não necessitava de reparações. Contas feitas, mais de um terço (35,8%) dos edifícios precisavam de reparações, com 9,4% a necessitar de reparações médias e 4,6% de reparações profundas, mostrou o INE. Fonte: Freepik Partilhar artigo FacebookXPinterestWhatsAppCopiar link Link copiado